Zika e Microcefalia – O estudo
Um estudo realizado por pesquisadores do CDC, publicado ontem no The New England Journal Of Medicine, confirma a relação entre Zika e Microcefalia.
A pesquisa levou entre outros critérios, o Shepard, para avaliar a teratogenicidade em humanos relacionando o vírus Zika e Microcefalia. Segundo esse critério, são analisados 7 itens dos quais 3 são obrigatórios ( 1, 2 ou 3, e 4), e outros três são coadjuvantes 5, 6 e 7, isto é ajudam a comprovar mas não são considerados essenciais se não estiverem presentes.
Entenda melhor esses critérios vendo o quadro publicado no arquivo do NEJM que descreve como esses critérios foram avaliados:Critério Shepard Zika
É bom lembrar que o país vive uma epidemia de microcefalia, mas esse é apenas um dos problemas relacionados à Zika congênita. Há bebês que nascem com o perímetro cefálico normal, mas que apresentam problemas neurológicos, e possivelmente também associados à Zika.
Guillain-Barré é outra complicação menos frequente, mas também associado à doença.
Por que será que os pesquisadores demoraram tanto para aceitar uma relação que parecia tão óbvia?
As implicações são muito sérias e é necessário haver comprovação e evidências científicas para que as análises resultem em ações que possam efetivamente levar à prevenção. Isto é , se uma relação é incorreta, podemos implementar ações que não levam à resolução da causa real do problema.
Essa publicação é um marco pois é a primeira vez que se comprova a teratogenicidade associada a uma doença transmitida por um mosquito.
Porque não apareceram casos de microcefalia antes em outros surtos?
Foto Revista da Fapesp
Antes do Brasil aconteceram alguns surtos importantes porém muito menores:
- 2007 – Micronésia em 2007 ( cerca de 5000 casos confirmados, com a estimativa de ter contaminado 74% da população). Não se observou casos graves nem associação com complicações neurológicas.
- 2013 – Polinésia Francesa – Estudos retrospectivos encontraram casos de Guillain-Barré e alguns casos de microcefalia.
- 2014- Ilha de Páscoa (população diminuta)
- 2015- Zika Chega ao Brasil- Março – Alerta de Microcefalia em Campina Grande-PB e Pernambuco, (20 x o numero anterior de microcefalia)
- Novo
- Avaliação que Zika tenha contaminado de 400 mil a 1,3 milhões de brasileiros em 2015. Grandes incertezas.
- Em abril de 2016, todos os estados da federação tem casos autóctones (sem histórico de viagem)
Pesquisadores acreditam que pode ser devido à mutações vírus que ainda há muito para ser elucidado sobre o vírus.
Principais desafios em relação ao Zika
- dificuldade de diagnóstico laboratorial: alto custo e só é possível até o 5 dias após o inicio dos sintomas;
- poucos laboratórios são capazes de realizar os testes disponíveis;
- desenvolver um teste que avalie a sorologia e não somente a presença do vírus;
- os poucos testes sorológicos em desenvolvimento apresentam reações positivas cruzadas com outros flavivirus em circulação no país, como dengue com 4 sorotipos e febre amarela- grande parte da população é vacinada contra a doença – além do próprio vírus Zika;
- entender como o vírus se manifesta e em especial como é capaz de invadir a placenta para b
- buscar formas eficazes de combater a doença;
- entender outras possíveis formas de transmissão da doença, como a sexual (há casos notificados), transfusão de sangue e se o vírus encontrado na urina e principalmente na saliva, tem o potencial de transmissão;
- verificar se outros vetores são efetivos na transmissão do vírus;
- intensificar a eliminação de criadouros do Aedes;
- 80% dos casos são assintomáticos:
- Vacina!
- Profilaxia da picada do inseto : química (repelente) e física (roupas);
- Como vão crescer as crianças nascidas com comprometimento neurológico? Qual a extensão desse comprometimento? Existem outros danos em outros órgãos?
- Sindrome de Guillain- Barré x Zika
- Casos assintomáticos também estão associados à essas complicações?
São muitas perguntas e novas a cada dia.
Embora a comprovação da relação entre Zika e microcefalia não seja uma notícia feliz, pelo menos confirma a causa e abre maiores oportunidades para prevenção, além é claro, de maiores verbas do Tio Sam destinadas ao combate da doença. A possibilidade da entrada da doença nos EUA foi reavaliada e a perspectiva é um cenário menos otimista, o que leva a investimentos de maior porte.
Enquanto as doenças emergentes ficam no terceiro mundo com poucas chances de saírem de lá, na maioria das vezes, permanecem negligenciadas. Quando passam a circular sem nenhuma cerimônia, ameaçando países ricos e desenvolvidos, a coisa muda de figura!
Para entender de maneira rápida e muito bem explicado pelo virologista Dr. Edison Durigon da Rede ZIKA de São Paulo ouça o ótimo podcast contido no artigo publicado na revista da Fapesp .
Hoj é um dia histórico. Muitas publicações que comprovam relação de Zika e microcefalia foram realizadas por pesquisadores brasileiros. Parabéns a eles e à toda rede que esta dedicada a atender e estudar o vírus, a doença e suas complicações – O Brasil e o mundo agradecem a dedicação!
Liliana Junqueira de P.Donatelli
Para quem quer saber nos detalhes os veja cada um dos excelentes vídeos abordando o assunto gravados em evento na Escola Nacional de Saúde Pública.O Estado da Arte sobre a epidemia do Zika Virus:
Ceensp: O Estado da arte sobre a epidemia do zika vírus – Rivaldo Venâncio da Cunha (3/3)
6 Comentários
Pingback: Comparativo Dengue, Chikungunya, Zika e Febre Amarela - Blog Biossegurança | Cristófoli
Pingback: Microcefalia: rede SARAH oferece consultas para bebês - Blog Biossegurança | Cristófoli
Segundo o Dr Cícero Coimbra, médico neurologista e professor da UFESP, se os níveis de Vitamina D estiverem em níveis apropriados, o vírus da Zika não atravessa a placenta, assim, a criança não terá microcefalia.
Olá Hebert
Não conheço esse trabalho. Mas devemos ter cautela para indicar, até porque hoje temos muito mais desconhecimento do que evidências sobre os mecanismos de infecção da Zika. Tomara que ele esteja certo.
Prevenção ainda é o melhor, embora não garanta a eliminação do mosquito, atacar os criadouros é uma estratégia importante. Temos que usar todas as armas disponíveis como o uso de repelentes nas gestantes.E evidentemente tudo com acompanhamento médico. Nada de tomar a vitamina D “por conta”.
Liliana
Olá, Liliana.
Entramos em um processo sem reversão. Desde a década de 80 eu e toda a sociedade fomos orientador a dar fim nos possíveis locais de criação dos mosquitos, e a verdade é que apareceram outras duas pragas.
Se as mulheres forem aguardar para engravidar, a população será reduzida.
O uso da vitamina D é um coadjuvante das orientações médicas.
É sabido que não há restrições para a suplementação de até 10 mil UI de vitamina D.
Pois é Hebert…
Entendo a sua posição e compartilho da sua tristeza e desânimo.Infelizmente poucos deram a devida atenção aos criadouros, mesmo com a dengue matando tanta gente. Moro em Bauru que vem sofrendo há anos com epidemias de dengue ano a ano. Meus pais, em 2011 foram internados com dengue ao mesmo tempo. Foi uma luta.
Li algumas matérias sobre o Dr Cícero na internet, mas não encontrei nenhuma referência nos webinars que assisti sobre Zika, nacionais e internacionais, nem nos trabalhos que li sobre o assunto. O que não quer dizer que ele esteja errado. Somente para dar o devido crédito, ele é professor da UNIFESP, uma respeitada instituição.
Ainda há muito o que se descobrir sobre o assunto e tomara que ele esteja certo. Já é uma esperança em meio a tantas notícias desalentadoras.
Também tomo bastante cuidado aqui no Blog porque tem muita gente que acessa e que não é da área da saúde e pode entender que já é uma solução estabelecida e que não há mais riscos.
Obrigada por colaborar e trazer a novidade. Vamos torcer!
Abraços