No dia 8 de março um convite e uma provocação com o post “Dia Internacional da Mulher: Como dar visibilidade às mulheres?”
Mulheres Invisíveis
Nessa data em 2021, fizemos uma sugestão de leitura: “Momento de Voar” de Melinda Gates que aborda muito dos desafios enfrentados pelas mulheres. Esse ano um livro me conquistou:“Invisible Women” escrito pot Caroline Criado Perez e publicado pela Abrams Press, New York. Infelizmente, ainda não tem tradução para o português.
O livro, me inspirou a escrever esse post. Contribuições: Luiza Donatelli, minha filha jornalista, que faz pós-graduação na Escola Politécnica da USP em Ciência de Dados e Angela Cristófoli, nossa gerente de marketing e comercial.
Luiza me indicou o livro e assistimos juntas ao documentário da Netflix CODED BIAS (em tradução livre viés codificado). Foi uma oportunidade incrível para mim. Aprendi mais sobre inteligência artificial e percebi que os computadores não são nada neutros — depende de quem programa alimenta os dados.
Angela, como eu, adora filmes e contribuiu para a lista de indicações sobre o tema:
Filmes sobre o tema
- Estrelas Além do Tempo — baseado em fatos, retrata a história de três cientistas negras da NASA. Fizeram a diferença na corrida espacial. O filme recebeu três indicações ao Oscar em 2017: melhor filme, melhor roteiro adaptado e melhor atriz coadjuvante.
- The Wife — Com Glenn Close, Jonathan Pryce e Christian Slater. Baseado no livro de Meg Wolitzer de mesmo nome.
- Radioactive — Retrata a vida de Marie Curie. Mais uma entre tantas cientistas que encontrou obstáculos na carreira pelo fato de ser mulher.
- Albert Nobbs — Glenn Close protagonista do filme ambientado no século XIX, no qual ela se faz passar por um homem para conseguir ter um emprego adequado. Pela sua atuação recebeu indicação ao Oscar como melhor atriz.
- Nise — O Coração da Loucura — Nacional estrelado por Glória Pires e baseado na vida da psiquiatra brasileira Nise de Oliveira, que revolucionou o tratamento de Saúde Mental no Brasil.
- Vidas Partidas — Aborda a violência doméstica que é um problema de saúde e segurança pública em várias partes do mundo. Inspirado na vida de Maria da Penha, baleada pelo marido enquanto dormia, ficou paraplégica aos 38 anos. A lei que tornou crime a agressão física e psicológica contra mulheres no Brasil recebeu seu nome duas décadas depois.
Big Data = Dados dos Homens (gênero masculino)
Esse foi um dos pontos mais reveladores na minha leitura do livro Invisible Women. A autora mostra (com dados) como tudo é construído baseado em informações coletadas a partir de pessoas do sexo masculino e generalizada para a humanidade; ou seja, o homem é tido como o padrão. Ela chama essa situação de Lacuna de Dados ligada ao Gênero. Não que isso seja novidade – para nós mulheres. Entretanto, estamos tão acostumadas que muitas situações passam despercebidas. E, certamente, para os homens também.
O documentário da NETFLIX ilustra o tema e vai além, mostrando que o estereótipo dos dados é masculino e caucasiano. O exemplo é o sistema de reconhecimento facial que falha em detectar rostos fora desse padrão. O motivo é o modo como o banco de dados é alimentado.
Medicamentos baseados em dados dos homens
De volta ao livro – o dano que a falta de dados sobre mulheres traz é tão extenso que é chocante. De acordo com a autora, boa parte dessa omissão é involuntária. Do ponto de vista de pesquisa é bem mais complicado engajar mulheres em estudos clínicos. Mulheres em geral têm menos disponibilidade (jornadas duplas, triplas). São mais complexas, com variação de hormônios que podem alterar os resultados (mais um motivo para coletá-los). E por fim, engravidam! O resultado é que muitos remédios funcionam de modo diferente para homens e mulheres. Às vezes não funcionam para elas e podem até trazer efeitos adversos.
Banheiros públicos
Outro exemplo retratado são os sanitários masculinos e femininos em espaços públicos. Se até aqui você tinha alguma dúvida, certamente você vai concordar que a justiça não é feita pela igualdade, mas sim pela equidade. Não adianta ter o mesmo número de banheiros com área igual para homens e mulheres. Isso porque elas geralmente demoram mais na utilização: seja por acompanham crianças, idosos, menstruarem ou pela necessidade de removerem parte do vestuário. É só lembrar do último CIOSP (Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo) ou a feira Hospitalar e as filas no lado feminino. São necessidades diferentes a se contemplar – isso é equidade.
No Dia Internacional da Mulher: Como dar visibilidade às mulheres?
É óbvio que não é tão fácil atingir o objetivo. Precisamos de mais representação em todos os níveis e, antes de tudo ter consciência desses hiatos que estão distribuídos em todos os setores — inclusive dentro das nossas casas — e ter como propósito mudá-los. Podemos partir da educação dos nossos filhos e filhas e conseguir mais participação dos maridos/companheiros nas tarefas domésticas. Eleger mais mulheres para cargos públicos é outra atitude transformadora para um mundo mais justo.
Precisamos mais do que rosas no dia da mulher. Precisamos de voz e, sermos ouvidas!
Liliana Donatelli com as contribuições de Angela Cristófoli e Luiza Donatelli