Infecção Sexualmente Transmissível, gonorreia bucal e resistência antimicrobiana
Nessa matéria especial para o Blog Biossegurança, o Prof. Dr. Rafael Nobrega Stipp esclarece sobre gonorreia multirresistente e odontologia. O que efetivamente você pode fazer a respeito?
O que é uma DST ou IST?
Infecção Sexualmente Transmissível (IST) é o termo atual para o “Doenças sexualmente Transmissíveis (DST)”. Segundo estimativas da OMS, a cada ano, 500 milhões de pessoas adquirem uma das IST curáveis (gonorreia, clamídiase, sífilis e tricomoníase)1. No Brasil, baseada nos dados de prevalência da tabela1 , o Ministério da Saúde projeta mais de 9 milhões de novos casos de gonorreia por ano na população de 15 a 49 anos.1
Gonorréia
A gonorreia é causada pela espécie Neisseria gonorrhoeae, conhecida também por gonococo. A transmissão se dá pelo contato sexual. Comumente a doença manifesta-se nas uretras masculina, com sintomatologia e, na feminina, menos sintomática. Localizações menos comuns incluem as infecções anorretal e bucal.2
Manifestações Orais
A maioria dos casos de gonorreia oral parece ser resultado de felação (sexo oral), embora possa ocorrer pela septicemia gonocócica ou pelo beijo, a depender da carga bacteriana infecciosa e condições do hospedeiro.2
Na boca, a gonorreia afeta comumente a faringe, as amígdalas e a úvula. Em geral, é assintomática ou com sintomas leves. Formas mais severas exibem edema e eritema com pústulas puntiformes pequenas e esparsas. Embora na maioria dos casos de infeção faríngea ocorra a resolução espontânea, há o risco de não resolução e a necessidade de tratamento para não disseminação da infecção. 2
Gonorréia Multirresistente
Recentemente, Neisseria gonorrhoeae tem demonstrado elevada resistência antimicrobiana. Estudos realizados nos últimos anos nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, demonstram a circulação de cepas de gonococos com taxas de resistência antimicrobiana igual ou maior que 5%, limite determinado internacionalmente de aceitação para uso de um antibiótico. 1
Frente a essa estatística, o protocolo de antibiótico-terapia para a gonorreia uretral ou oral tem mudado1. Em relação a gonorreia bucal, diversos estudos têm mostrado que N. gonorrhoeae pode adquirir material genético determinante de resistência aos antibióticos a partir de espécies bucais. 2
O que o cirurgião dentista deve fazer?
Quando há suspeita de gonorreia bucal, o Cirurgião-Dentista deve encaminhar o paciente ao Serviço de Saúde na Atenção Básica para o acolhimento, o diagnóstico laboratorial, a assistência e, quando necessário, o encaminhamento dos pacientes às unidades de referência. 1
Referências:
1 Ministério da Saúde. Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). 2015. Disponível online em: https://goo.gl/o8ppNZ
2 Brad Neville. Patologia Oral e Maxilofacial. Elsevier Brasil. 2016. Disponível online em: https://goo.gl/qWuYu8
Prof. Dr. Rafael Nobrega Stipp.Área de Microbiologia e Imunologia Departamento de Diagnóstico Oral Faculdade de Odontologia de Piracicaba – UNICAMP -Membro do Grupo GerAção Biossegurança
Agradecemos Dr Rafael pela matéria e os esclarecimentos nesse momento onde a resistência aos antimicrobianos tem sido tão discutida pelo desafio crescente que enfrentamos.
Liliana Junqueira de P.Donatelli
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Assista também ao video do CDC sobre o assunto:
(OBS o vídeo esta em inglês, mas você pode escolher legendas traduzidas automaticamente. Não é perfeito, mas ajuda bastante! Para isso clique em detalhes na aba inferior aparece legendas- clique reproduzir automaticamente, depois clique em detalhes /traduzir automaticamente – escolha Português
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