Marie Curie – Há 153 anos nascia uma mulher que revolucionou a ciência
As mulheres vêm ocupando lugares cada vez mais importantes na sociedade, virando o jogo e diminuindo a desigualdade de gênero. Mas essa mudança começou há muito tempo. Algumas mulheres extraordinárias que foram capazes de se destacar num cenário ainda mais masculino e conservador. Marie Curie foi uma dessas exceções, que mesmo vivendo no século XIX numa sociedade extremamente machista, se tornou um dos maiores ícones da história da ciência.
Origem polonesa – Maria
Nasceu Maria Sklodowska, em 7 de novembro de 1867 em Varsóvia, na Polônia. Filha de professores, Marie sempre recebeu uma excelente educação, sendo estudante destaque em sua escola. Apesar do brilhantismo nos estudos, não pôde frequentar a Universidade de Varsóvia, exclusiva para alunos do sexo masculino. Marie, porém, continuou a estudar em segredo em uma “Universidade Flutuante”, com cursos clandestinos ministrados em porões, escondidos do governo. O seu sonho e de sua irmã, Bronia, era sair do país e poder cursar uma universidade, mas devido à má condição financeira, não podiam. Por cinco anos, Marie trabalhou como tutora e governanta de uma família, para financiar os estudos de Bronia e economizar para posteriormente permitir os seus. Usava seu tempo livre para estudar matemática e física que achava fascinantes.
Em Paris – Marie
Finalmente, em 1891, Marie muda-se para Paris onde ingressa na Sorbonne. Obtém bacharelados em Física e em Matemática. Nessa época, as mulheres eram apenas 3% nas universidades francesas. Pouco depois foi apresentada por um colega a Pierre Curie que possuía um modesto laboratório no qual ela inicia os seus trabalhos. O feliz encontro mudaria as vidas de Marie e Pierre e o curso da ciência! Em 1895 casam-se e passam a trabalhar juntos.
Marie e Pierre Curie
Impressionados com as propriedades dos raios emitidos por sais de urânio, encontrados nas pesquisas do físico francês Antoine Henri Becquerel, o casal Curie passa a estudar minerais com atividades similares, um deles, a pechblenda, de onde é extraído o urânio. Durante suas análises Marie descobre que o mineral composto, emitia mais raios que o Urânio isolado e nomeou a propriedade manifestada por esses minerais de “radioatividade”.
Já nessa época, a cientista desconfiava da presença de outros elementos químicos no mineral, e que seriam responsáveis por essa atividade. Ambos trabalharam intensamente nessa pesquisa, que viria a culminar com o prêmio Nobel para o casal – inicialmente indicado apenas para Pierre, que se recusou a receber o prêmio, pois julgava o merecimento ainda maior de Marie.
Apesar da relutância, a academia finalmente incluiu o nome de Marie na indicação ao prêmio Nobel de Física em 1903, compartilhado com com Becquerel, devido aos estudos da radioatividade.
O prêmio trouxe reconhecimento mundial para Marie Curie e seu trabalho com radioatividade que proporcionou imensuráveis avanços na medicina.
Adeus Pierre
Marie e Pierre continuaram compartilhando seu amor pela ciência e o trabalho de pesquisa em seu laboratório até 1906, quando Pierre Curie morre tragicamente atropelado por uma carruagem. Viúva com duas filhas pequenas, Marie não se deixa abalar. Aceita o convite inédito da Sorbonne para ocupar a cadeira de Física, no lugar de seu marido, sendo a primeira mulher a lecionar nessa Universidade.
Marie dedica-se a homenagear seu marido que resultou na criação do Instituto do Radio em Paris alguns anos depois e muito mais tarde em Varsóvia.
Em 1911, Marie ganharia seu segundo prêmio Nobel, desta vez em Química por descobrir e comprovar a existência de dois novos elementos o Rádio e o Polônio, além de isolar o rádio.
Mais um Nobel e um escândalo amoroso
Durante a famosa conferência (foto no topo da post) com a nata de cientistas que reuniu 21 físicos da Europa na Bélgica, e em meio à nomeação de seu segundo prêmio Nobel, vem a público seu relacionamento com Paul Langevin, um eminente físico e também ex-discípulo de Pierre.
Embora Langevin estivesse separado da mulher e Marie fosse viúva, o caso foi um escândalo o qual Marie custou para se recuperar. Na volta de Bruxelas, ela e suas filhas Irène e Ève, tiveram que se esconder em casa de amigos, tamanha repercussão negativa e ameaça ao patrimônio familiar. Depois deste fato, a cientista passou por problemas financeiros inclusive para financiar suas pesquisas, uma vez que ela e Pierre haviam abdicado dos royalties provenientes de seus achados.
Foi somente depois de uma entrevista a uma jornalista americana que percebeu suas dificuldades em dar continuidade ao trabalho e, mudou o rumo da sua vida ao iniciar uma campanha para o Instituto do Rádio, com uma visita de Marie e sua filhas aos Estados Unidos. Marie foi homenageada na casa Branca e recebida pelo presidente. Assim, obteve financiamento de várias entidades e indivíduos daquele país que proporcionam a ela criar seu Instituto além de conseguir obter mais uma grama do seu precioso Radio.
A cientista ganhou diversos outros prêmios e participou de vários congressos importantíssimos em sua área, obtendo cada vez mais prestígio e reconhecimento internacional, desafiando os valores da sociedade conservadora da época.
Devido à constante exposição à radioatividade, Marie Curie desenvolveu leucemia falecendo em 4 de Julho de 1934, deixando pra trás um legado gigantesco e um grande avanço para a física e a química.
“Não podemos pensar em construir um mundo melhor sem melhorar os indivíduos, e o nosso dever particular é ajudar aqueles para os quais podemos ser úteis” Marie Curie
Uma inspiração como acadêmica e cientista – uma grande mulher!
CURIOSIDADES
A família que mais prêmios Nobel conquistou…
- 1a Mulher a obter um PhD em uma Universidade Francesa;
- 1a Mulher a ganhar um prêmio Nobel;
- A sua filha Irene que tornou-se sua assistente também ganhou um prêmio Nobel de Física em conjunto com seu marido em 1935 somando cinco prêmios Nobel à família Curie. O marido de Ève, receberia o sexto pelo trabalho da UNICEF;
- Ève foi concertista, jornalista, correspondente de guerra e escritora, responsável pela mais célebre biografia de Marie, traduzida para várias línguas. Monteiro Lobato foi quem traduziu para o português . Ève casou-se aos 50 anos e viveu até os 103;
- Marie foi a primeira mulher a ser professora no ensino superior na Escola Normal Superior de Sevrès
- Foi a primeira mulher a lecionar na Sorbonne;
- A primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel e permanece a única a ter recebido o prêmio em diferentes áreas da ciência (1903 em Física e 1911 em Química).
- Estabeleceu a ação da radiação na cura do câncer;
- Durante a guerra esteve pessoalmente no front operando equipamentos de raios-X portáteis para ajudar os feridos, junto com Irene sua filha mais velha que a ajudou e serviu como sua assistente desde então seguindo os passos da mãe. Ambas morreram cedo de leucemia em consequência da contínua exposição aos Raios –X, Marie aos 67 e Irene aos 59;
- Seu sogro, médico responsável pelo seu parto, foi depois e durante muito tempo “babá” de sua filha mais velha Irene, em quem ela confiava plenamente, permitindo que Marie e Pierre se dedicassem com mais afinco aos seus estudos no laboratório;
- Apesar das grandes conquistas de mulheres fenomenais – como Marie – as diferenças salariais no Brasil entre homes e mulheres é ainda em média 30% nos dias de hoje! (pesquisa do BID* – Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Marie Curie & Einstein
- 1909 – Foram premiados e estiveram juntos na celebração de 350 da Universidade John Calvin
- 1911 – Encontram-se na famosa conferência de Bruxelas que reuniu 21 celebridades da física europeia da época, entre eles Max Planck. Henri Ruterford, Poincaré,Jean Perrin, Paul Langevin e Lorenz.
- 1911 – Einstein envia uma carta de apoio a Marie, quando a impressa francesa a recrimina pelo seu envolvimento com o já separado Paul Langevin. Começa a amizade entre os dois cientistas que duraria mais de 20 , pontuada por respeito e genuína admiração mútua.
- 1911 – Marie Curie, Lorentz e Poincaré, recomendam Einstein para a Universidade de Praga, que o aceita.
- 1913 – Einstein é convidado por Marie e Langevin para ministrar uma aula na Sorbonne. No ano seguinte, Einstein volta a Paris com a esposa, e os laços estreitam-se. Marie, Irene e Eve Curie mais alguns amigos passam férias com Einstein e o filho Hans nos Alpes suíços em agosto de 1913.
- 1933 – A conferência científica de Bruxelas em 1933 foi último encontro dos dois proeminentes cientistas, ocasião na qual Einstein consola Irene e Juilot encorajando-os a continuar o seu trabalho que foi duramente criticado durante a conferência. A longa amizade durou até a morte de Marie em 1934, Einstein estende a sua amizade a Irene e Juliot. Dois anos depois o casal recebe o Nobel em física.
Marie Curie no Brasil
- Marie Curie veio ao Brasil em meados de 1926, com Irene e ficaram 45 dias no país, visitaram o Rio de Janeiro, São Paulo incluindo as termas de Lindoia, pelas propriedades radiotivas de suas águas, e Belo Horizonte. Marie ministrou palestras em várias universidades e fez também alguns passeios turísticos.
- Irene e Marie Curie visitam o instituto do Radio em Belo Horizonte em 17 de agosto de 1926
Esperamos que você tenha gostado dessa viagem no tempo e tenha se encantado com essa guerreira, que com o seu jeito decidido, sua simplicidade, generosidade – e claro – brilhantismo mudou para sempre a história da humanidade.
Texto: Liliana Junqueira de P.Donatelli e Renan Esteves
Este post foi atualizado e repulicado em 07 de novembo de 2019
Pesquisa:Angela Cristófoli, Liliana Junqueira de P.Donatelli, Renan Esteves.
Imagens: Composição de Imagens da Internet pela V8
Fontes:
http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/physics/laureates/1903/marie-curie-bio.html
http://www.biography.com/people/marie-curie-9263538
http://www.businessinsider.com/marie-curie-radioactive-papers-2015-
Um sobrevôo no “Caso Marie Curie”: um experimento de antropologia, gênero e ciência: Rev. Antropol. vol.50 no.1 São Paulo Jan./June 2007 acessado em 22/10/2015 :
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-77012007000100009
Pesquisa DO BID em inglês:* http://idbdocs.iadb.org/wsdocs/getdocument.aspx?docnum=2208929
MARIE SKŁODOWSKA CURIE AND ALBERT EINSTEIN: A PROFESSIONAL AND PERSONAL RELATIONSHIP STANLEY W. PYCIOR – The Polish Review -Vol. 44, No. 2 (1999), pp. 131-142
Radiol Bras vol.34 no.4 São Paulo July/Aug. 2001
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-39842001000400002
MEMÓRIA DA RADIOLOGIA BRASILEIRA
A histórica visita de Marie Curie ao Instituto do Câncer de Belo Horizonte
7 Comentários
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O nome da minha filha foi em homenagem a essa mulher incrível. Luna Marie.
Que legal.
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É inspirador o brilhante apanhado da longa jornada de Madame Curie e sua família !
Tantos anos depois, as mulheres ainda continuam tendo que provar sua competência em diversas áreas, apesar das conquistas.