Prof Jayro é Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia de São Paulo, FOUSP, estomatologista e implantodontista.
Liliana:Dr. Jayro como foi a sua experiência com os primeiros casos de AIDS?
Prof. Jayro: Nos primeiros anos da década 80 do século anterior, já se percebeu que os pacientes afetados possuíam várias manifestações orais com comportamentos clínicos diferentes do que conhecíamos. Fui ao Hospital das Clínicas da FMUSP para tentar verificar esses eventos e, na época, as emoções eram mais fortes do que os conhecimentos científicos, pois alguns profissionais temiam atender esses doentes. Foram esses temores que despertaram meu interesse pela Biossegurança. Perguntava-me se essas preocupações tinham uma correspondência na Ciência ou se eram decorrentes de se lidar com uma doença ainda não bem conhecida e, na sua grande maioria fatal. Convenci-me que o risco era muito menor desde que trabalhássemos com as técnicas adequadas de prevenção das infecções cruzadas. Infelizmente, ainda hoje, existem profissionais que não partilham dessa minha opinião, provavelmente por falta de conhecimento sobre Biossegurança..
Liliana:Qual a importância da odontologia no diagnóstico da doença?
Prof. Jayro:Sendo a boca uma importante porta de entrada para infecções, os pacientes imunossuprimidos por qualquer causa estão sujeitos às mesmas. Não só isso. Temos também a possibilidade de diagnosticarmos neoplasias e contribuirmos para o diagnóstico precoce da infecção.
Liliana: O senhor já trabalhou especificamente com pacientes com AIDS?
Prof. Jayro:Sim. Durante um tempo trabalhei voluntariamente, nas manhãs das sextas-feiras na “Casa da AIDS” da Fundação Euríclides de Jesus Zerbini, na época localizada na Rua Frei Caneca. Na Faculdade de Odontologia da USP, principalmente, e no Hospital Universitário da USP atendia rotineiramente esses pacientes.
Em relação a acidentes ocupacionais, o senhor teve conhecimento de profissionais que se acidentaram e soroconverteram?
Apesar de ocorrerem acidentes perfurocortantes durante o trabalho odontológico, temos poucas soroconversões. É sabido que o CD está muito mais sujeito às infecções pelos vírus da hepatite B e C do que pelo HIV que, comparativamente, tem menor infectividade. Apesar de militar na Odontologia há muito anos, nunca conheci pessoalmente um colega que tenha se infectado profissionalmente.
Liliana:Como o senhor vê a AIDS hoje? O senhor acredita ter havido progressos?
Prof. Jayro: Passou a ser uma doença crônica controlável, mas não curável. Os progressos são imensos e os estudos incessantes. Difícil é acompanhar de perto todos os relatos de pesquisa. Surgem novos fotos a serem observados. Alguns anti-retrovirais provocam dislipedemias aumentando os riscos de doenças cardiovasculares, principalmente entre os portadores há mais tempo. Acho que os CDs devem pesquisar estas ocorrências durante sua anamnese.
Liliana:Em relação às manifestações orais da AIDS , elas continuam frequentes?
Prof. Jayro: Diminuíram notadamente de prevalência e incidência.
Liliana:Nos EUA existe hoje uma discussão em relação à possibilidade dos dentistas fazerem parte de um programa nacional para detectar novos casos de HIV através de exames rápido como rotina em suas consultas. O argumento é que os dentistas são os profissionais da saúde mais procurados pelas pessoas. Qual a sua opinião?
Prof. Jayro:Desde que respeitados os direitos do paciente, não vejam porque não. Sempre preconizei que os CDs aferissem a pressão arterial de seus pacientes, tanto para os cuidados durante o tratamento, quanto para funcionarem como agentes na prevenção. Não vejo diferença alguma, quando é reconhecido que o diagnóstico precoce e seu correspondente tratamento melhoram a qualidade de vida da população por limitar os danos provocados por uma doença. Atualmente tenho me dedicado á luta para que se coloque cirurgiões dentistas dentro dos estabelecimentos de saúde. Advirto que Odontologia Hospitalar não deve ser confundida com Odontologia em Hospital. Na primeira estamos nos referindo ao papel do odontólogo na saúde geral da população como membro de uma equipe de saúde. Na segunda estamos nos referindo aos procedimentos típicos de um consultório generalista dentro de hospitais. Coisa muito diferente. Para que o CD atue em Odontologia Hospitalar precisará ampliar seu conhecimento muito acima do que ministrado nos currículos atuais quando se fará necessário um aprofundamento em clinica médica e, por exemplo, no diagnóstico estomatológico de problemas locais, mas também, nas manifestações estomatológicas de problemas sistêmicos.
Mais um colega do MBA em Gestão em Saúde e Controle de Infecção Hospitalar, coordenado pelo Dr. Antonio Tadeu Fernandes.
Tenho tido a oportunidade de conhecer tantas pessoas interessantes…
Estudar é um privilégio.
Liliana Junqueira de P Donatelli