Entrevista Dr. Jayro Guimarães Junior
por Luiza Donatelli em CIOSP 2014.
Luiza: O que você achou sobre o projeto “Uma Janela para a Biossegurança” ?
Dr. Jayro: Eu achei uma iniciativa importantíssima, porque um dos motivos pelos quais os cirurgiões-dentistas não comparecem nos cursos é porque a odontologia é muito exigente em matéria de tempo. É comum os dentistas trabalharem muitas horas além das oito horas comuns aos demais trabalhadores. Ter outros meios de conseguir informação é muito importante para a classe odontológica como um todo.
Luiza: Você conhece o Blog da Biossegurança?
Dr. Jayro: Sim, eu visito o blog com muita frequência.
Luiza: O que você gostaria de ressaltar para todos os cirurgiões-dentistas em relação a biossegurança?
Dr. Jayro: A coisa mais triste, sem nenhum exagero, é, que apesar da extrema importância da biossegurança para o cirurgião dentista e os seus pacientes, da existência de uma legislação pertinente a biossegurança que vai cobrar os profissionais, que vai ter a capacidade de qualquer poder público de multá-lo e exercer o papel de polícia, o cirurgião-dentista não tem ainda a obrigatoriedade e privilégio de ter biossegurança no seu currículo de graduação. Algumas faculdades colocam conteúdos variados em horas variáveis também em seu currículo, mas são apenas algumas e por conta própria . Acredito que a biossegurança deveria fazer parte do currículo mandatório. Chamo a atenção do MEC e ABENO Associação Brasileira de Ensino Odontológico que pensem no assunto e obriguem, de alguma forma, que haja esse conteúdo. É um absurdo alguém ser cobrado pela legislação vigente e não ter esse conteúdo informativo dentro da sua graduação. Na verdade, a empresa Cristófoli promovendo essas palestras nada mais faz do que ter uma forma de fidelizar o seu cliente, o seu comprador de uma forma simpática, agradável, não só participando na venda como na informação e elucidação do próprio uso dos seus equipamentos. Porque se o profissional não está devidamente informado sobre o uso do aparelho ele poderá atribuir, devido ao seu mau uso, a um defeito do equipamento quando, na verdade, houve desconhecimento. Eu acho um absurdo que alguém tenha que usar a autoclave sua vida toda, de ele ser responsável pelo controle da infecção cruzada de seu consultório privado e toda sua biossegurança e ele nunca ter se interessado por conta própria ou por obrigação durante sua graduação a ter esse tipo de informação. A Cristófoli, fazendo esse trabalho informativo, dá um passo a diante adiante de muitas empresas que só se interessam pela venda, e pelo aspecto financeiro e esquecem que a maneira mais simpática de obter isso e da sua fidelização é dar informações e colaborar com a educação continuada de seu cliente.
Luiza: Qual equipamento ou produto Cristófoli você achou mais interessante aqui no CIOSP? Por quê?
Dr. Jayro: Particularmente a gostei muito dos equipos. Como adepto e professor de biossegurança os equipos estão muito adequados para a sua finalidade devido a sua ergonomia e design, sinceramente, desde o menor até o maior equipamento, todos me agradam. Há muitos anos que eu tenho uma vertente para a biossegurança e é muito difícil eu olhar para um equipamento tem esse objetivo e ele não me agradar.
Luiza: O que você considera como maior desafio para o controle de infecção hoje?
Dr. Jayro: A educação específica. Por esta razão enfatizei tanto a importância da Cristófoli propiciar a educação continuada. Na verdade, apesar do grande número de cirurgiões-dentistas que temos neste CIOSP, ainda considero que, muitos profissionais se formam e nunca mais se preocuparam com a educação continuada. Costumo brincar que se 10% dos dentistas estivessem interessados em educação continuada, não só em biossegurança, teríamos que dar cursos em ginásios esportivos e isso não é necessário. Às vezes, uma sala pequena dá conta de abrigar todos os interessados. É necessário que nós nos conscientizemos da absoluta necessidade de que, todos os dias, estejamos atrás da nossa educação continuada e acreditando que nunca conseguiríamos completá-la, pois o conhecimento estará sempre na nossa frente. É uma tarefa para a vida toda. Desconfio das pessoas que se consideram satisfeitas ou sabedores de tudo porque, possivelmente, eles não devem ser muito voltados para os estudos, pois, quem o é, rapidamente percebe que ele não tem fim e que não vai dar conta, mesmo usando todo o tempo de sua vida. Só resta a ele a fazer tudo que é possível, mas com afinco, pois também precisa cuidar dos seus pacientes e ganhar a vida. A minha natureza de professor vê isso de uma forma muito clara.
Luiza: Você acredita que as dificuldades que as pessoas apresentam em relação a biossegurança são mais de ordem teórica ou prática?
Dr. Jayro: As duas coisas. Elas andam juntas. Não há forma de exercer a odontologia sem ambas.
Luiza: Como surgiu a ideia para fazer o livro “Biossegurança e Controle da Infecção Cruzada”? Você acredita que atingiu os seus objetivos anteriores?
Dr. Jayro: Da época que ele foi escrito, não havia em língua portuguesa um livro que tratasse desse assunto sobretudo à luz da legislação sanitária vigente. Optei pelo formato de um livro que era o único meio que colocar todo conteúdo em conjunto. O artigo científico tem uma limitação de páginas, um artigo para revista também. Não era também uma tese, então, para época, era a mídia possível. Hoje temos a internet. Apesar da mídia eletrônica ser um meio importante para a obtenção de conhecimento, ainda acho que o livro não está descartado e isso não é conservadorismo da minha parte. O livro tem e terá um papel. (Parece que eu brinquei com papel, mas não foi intencional).
Como a biossegurança não tem somente uma utilidade para uma área específica , apesar do livro estar esgotado eu pensava quando escrevi o mesmo que ele seria de interesse de todas especialidades odontológicas. Se considerarmos a tiragem que teve, penso que, se houvesse um maior interesse em biossegurança, ele teria esgotado em menor tempo e nós conseguiríamos reeditá-lo mais vezes. Não que eu esteja insatisfeito, mas o fato corrobora a expectativa que tenho sobre os profissionais de saúde que é, de certa forma, pessimista. A maioria dos cirurgiões-dentistas ainda não encara a educação continuada com a devida importância que ela tem.
Luiza: Gostaria de acrescentar alguma coisa?
Dr. Jayro: Não, apenas agradecer e parabenizá-los pelo evento.”
Agradeço Dr. Jayro pela entrevista e mais ainda por todo o seu trabalho em promover a Biossegurança no Brasil!
Liliana Junqueira de P.Donatelli