Mayaro – Mais uma doença negligenciada
A Universidade da Flórida encontrou um caso do vírus Mayaro, inédito no Haiti. O vírus foi identificado em uma amostra proveniente de um menino de 8 anos co-infectado com o vírus dengue. Pesquisadores da UF-EPI* estavam na área estudando Chikungunya, recolhendo amostras de sangue de crianças que apresentavam febre.
Que febre é essa?
A febre do Mayaro é uma doença infecciosa febril aguda, causada por um arbovírus**. Pode causar uma doença de curso benigno semelhante a dengue e Chikungunya. Normalmente, após uma ou duas semanas o paciente se recupera completamente. Entretanto, parte dos pacientes pode apresentar queixa de artralgia intensa, acompanhada ou não de edema nas articulações. A lesão pode ser limitante ou incapacitante e durar por meses.
O Vírus Mayaro da família Togaviridae, muito próximo ao vírus Chikungunya. Foi isolado pela primeira vez em Trinadad em 1954. A maioria dos surtos relatados depois disso foram na Amazônia. Entretanto, o vírus foi encontrado em circulação em animais em outras regiões do Brasil. Alex Pauvolid-Correa pesquisador do IOC, encontrou o vírus em animais no Pantanal Matogrossense (1 e 2).
Arte: Jefferson Mendes
Identificar o vírus é uma tarefa difícil uma vez que os sintomas são muito similares aos da Dengue, Zika e Chikungunya com grande número de casos em toda a America Latina.
Tradicionalmente, os casos de febre pelo Virus Mayaro foram associados ao meio rural com transmissão pelo mosquito Haemagogus. Infelizmente o Aedes também foi considerado um vetor competente para a sua transmissão.
Porque o Aedes faz tanto sucesso como transmissor de doenças?
Conhecido também como o “O odioso do Egito”O Aedes aegypti é uma das espécies de mosquito mais universalmente distribuídas pelo globo.
Embora tenha sido banido do Brasil em duas ocasiões ( 1958 e 1973), conseguiu retornar pois os países vizinhos não haviam exterminado o vetor. Hoje esta presente em todos os estados.
Do ponto de vista ecológico, são muito resilientes, e se acomodam muito facilmente a diferentes situações. Conseguiram se adaptar a temperaturas um pouco mais frias e a colocar ovos em águas não tão limpas. Da mesma forma, ainda que sejam diurnos, são oportunistas e podem se alimentar também em outros horários.
Os adultos sobrevivem mais tempo caso haja abundância de alimento o que proporciona que vírus como o da Dengue, que demoram a atingir as glândulas salivares do mosquito, consigam completar o seu ciclo.
Colocam muitos ovos em diferentes locais, o que contribui para dispersão da prole.Os ovos são extremamente resistentes ao ressecamento e podem sobreviver sem água por até um ano. Basta uma pequena quantidade de água para permitir o desenvolvimento das larvas.
Adaptaram-se a viver junto ao homem, dentro de casa. São ariscos e aumentam-se de várias pessoas facilitando a dispersão dos vírus.

Matthew – Arboviroses devem aumentar no Haiti
A passagem do furacão em 2016 mais uma vez abateu o Haiti, um dos países mais pobres do mundo e criou extensas áreas com água, em temperatura tropical. Um verdadeiro paraíso para a proliferação do Aedes! Assim sendo as autoridades sanitárias temem um aumento das doenças transmitidas pelo vetor.
Agora é esperar para ver o que vai acontecer e torcer para que não venha mais uma epidemia.
Liliana Junqueira de P.Donatelli
*Universidade Florida do Instituto de Patógenos Emergentes
** doença transmitida por artrópodes
Para saber mais
Mayaro_Fever_Virus_Brazilian_Amazon
Mayaro_fever_in_an_HIV-infected_patient_
Neutralising antibodies for Mayaro virus in Pantanal, Brazil
Mayaro Virus in Child with Acute Febrile Illness, Haiti