Para o dia 8 de março mais um presente: Essa semana fui até o consultório da Dra. Carmem onde ela me recebeu para essa entrevista. Transcrevi nosssa conversa da maneira mais fiel possível. Dra. Carmem fala com delicadeza e naturalidade sobre um tema que para muitos ainda é tabu – sexualidade feminina. Com a mesma simplicidade , ela ajeitou o cabelo e se deixou fotografar.
Liliana: Você como ginecologista tem uma visão privilegiada do ponto de mutação que acontece da menina para mulher. Como você vê as mudanças ao longo da sua carreira em relação à primeira consulta ao ginecologista? Elas acontecem mais cedo?
Dra. Carmem: Hoje em dia acontecem bem mais cedo, existe uma conscientização das mães que trazem as meninas antes de começar a ter vida sexual e no geral, vem muito bem-vinda, pelas meninas inclusive. Com raras exceções eu tenho pegado gestação em meninas adolescentes. É importante ressaltar que o meu público é diferente dos postos de saúde.
Liliana: Em relação às medidas preventivas, tanto com relação à gravidez, quanto às Doenças Sexualmente Transmissíveis ( DST), na sua avaliação as mulheres estão mais conscientizadas, e exigindo por exemplo o uso de preservativos dos companheiros? E as adolescentes tem o mesmo perfil?
Dra. Carmem: As adolescentes usam mais, porém quando o namoro fica firme elas já não usam mais o preservativo. Quem não usa o preservativo é a faixa etária dos 30 aos 50 anos, com raras exceções usa de rotina. As pacientes que tem já tem mais idade, também não exigem que seu companheiro use.
Liliana: Especialmente quando é o marido não é?
Dra. Carmem: Marido nunca.
Dra. Carmem e Liliana : risadas….
Liliana: Gostaria que você falasse sobre a importância da vacinação contra o HPV. Quem deve tomar a vacina? A partir de que idade? Os meninos também podem tomar?
Dra. Carmem: Bom, a vacina no HPV é importante pois previne quando entramos em contato com os vírus que mais causam câncer de colo do útero, em torno de 90%. Essa vacina esta indicada pela atualmente pela ANVISA para meninos e meninas de 9 a 26 anos. Isso não quer dizer que após os 26 anos ela não possa ser usada, somente que a reposta é melhor nessa faixa etária, até hoje segundo os estudos.
Liliana: Talvez porque nesta idade muitos já tenham tido contato com os vírus.
Dra. Carmem: Pode ser, … pode ser. E os meninos podem tomar também.
Liliana: Você acha ou tem alguma informação de quando a vacina estará disponível através do SUS?
Dra. Carmem: Esta vacina esta sendo disponibilizada pelo SUS aqui em Bauru, para as meninas que são HIV positivo. E em algumas cidades do estado do Rio e do estado de São Paulo, esta disponível para meninas.. Em Campos do Rio , minha cidade Natal, sei que já está disponível para meninas de 11 a 15 anos . Mas já existem vários projetos tramitando para ampliar a cobertura pelo SUS.
Liliana: Como você a biossegurança e controle de infecções ( uso de material descartável, uso de autoclave, lavagem de mãos, cuidados com equipamentos) nos consultórios ginecológicos?
Dra. Carmem: Bom, segundo a orientação da vigilância sanitária nós devemos usar tudo descartável, ou fazer o reprocessamento através de centrais de esterilização especializadas, ou ainda nos próprios consultórios através das autoclaves. O material que a gente usa para fazer a coleta do papa-nicolau é todo descartável, desde os espéculos, os tubetes depois são depois desinfetados, e todo material utilizado é descartado. A lavagem de mãos é realizada de rotina antes de calçar as luvas descartáveis e depois de retirá-las ou ainda antes e após o exame do paciente onde não é indicado o uso de luvas. As pias devem ter acionamento de água que dispense o uso das mãos, o sabonete deve ser líquido e as toalhas de papel descartáveis. Esses procedimentos são necessários para evitar a transmissão de doenças nos consultórios. Os resíduos considerados infectantes são recolhidos por empresa especializada que faz a disposição final.
Quais são os cuidados importantes em relação à higiene íntima?
Dra. Carmem: Em relação aos cuidados de higiene com o corpo, nós devemos lembrar que moramos em um país tropical, fazer o asseio diariamente, com água e sabão neutro. Não é necessário que o sabonete seja antisséptico ou especial, basta que seja neutro. Não ter medo de lavar a região, cuidando para não ficar secreções entre os pequenos e grandes lábios. Dormir de preferência sem calcinha, que é para deixar a vulva ventilar. A calcinha deve ser lavada com água, de preferência com sabão de coco, evitar o sabão em pó e nunca usar amaciante. No último enxágue eu recomendo utilizar vinagre em solução na proporção de uma colher de para cada três litros de água. Além das propriedades antissépticas o vinagre amacia o algodão. As calcinhas devem ser brancas de algodão, porque a tinta pode irritar a vulva. Depois de lavadas devem secar ao sol e se possível passar o fundinho com ferro elétrico. Isso também vale para as cuecas, nos cuidados com os meninos.
Liliana: E aquela mania tão comum de lavar as calcinhas no chuveiro?
Dra. Carmem: Não tem problema, desde que elas não fiquem secando no banheiro, porque a umidade e calor favorecem proliferação micro-organismos que poderão causar infecções – nesse caso, principalmente fungos. Logo depois levar para secar no varal ao sol se for possível.
Você gostaria de fazer um comentário final?
Dra. Carmem: Em relação ao posicionamento da mulher hoje, eu acho que as nossas conquistas foram grandes. A mulher cada vez mais tem procurado melhorar do campo de trabalho e tem chegado ao topo na área social. Às vezes a gente se dedica tanto ao nosso trabalho, que algumas coisas ficam um pouquinho de lado. A gente nunca deve esquecer que tem uma família, que a gente deve cuidar bem dos filhos…
Liliana Junqueira de P. Donatelli
1 Comentário
Pingback: HPV em Ciência no Dia Dia por Alberto Consolaro